O presente blog surgiu em 2010, como e-fólio da unidade curricular de Métodos de Investigação em Educação do Mestrado em Comunicação Educacional Multimédia. Volvidos 3 anos desde a publicação do último post, surgiu novamente a pertinência de o reavivar, agora numa lógica de continuar a compilar algumas informações, mas principalmente muitas das minhas opiniões, perceções e dúvidas relativamente á investigação em educação, agora no âmbito doutoral. Assim, inicio esta nova caminhada, com algumas reflexões sobre como realizar uma proposta de investigação. Estas reflexões surgem no âmbito do Seminário de e-Research em eLearning e EaD. São uma reflexão baseada em interpretações pessoais relativamente ao 3 capítulo dos livro “Mestrados e Doutoramentos” de Ana Maria Correia e Anabela Mesquita, assim como, dos debates realizados no fórum relativo a este seminário, numa lógica de aprendizagem colaborativa.
Surge assim a questão: O que é o projeto de investigação?
O projeto de investigação é sempre a 1ª etapa a ter em
consideração numa investigação, no caso de doutoramentos, alguns dos capítulos
da proposta podem ser mesmo o embrião” dos capítulos da própria tese. O
objetivo da proposta é delimitar o tema ou tópico a investigar, assim como,
apresentar o método que será usado para realizar essa investigação. É
simultaneamente uma forma de comunicar as intenções da investigação (e assim
conseguir validação ou não, por parte de júris, orientadores ou até possíveis
financiadores) e servir de “mapa” para que o investigador não perca a “rota” a
quando da implementação da investigação.
Existe um conjunto de passos a ter em consideração na criação
de uma proposta de investigação, vejamos os três principais:
1º Encontrar e delimitar um tópico ou tema
A primeira etapa na criação de uma proposta de
investigação, deverá ser o encontrar e delimitar a temática que vamos
investigar. Segundo Correia e Mesquita (2013) :“primeiro há que pensar na
área de interesse do investigador. Depois há que refletir e explorar as
diversas possibilidades dentro dessa área, recolher toda a informação que
pareça interessante e útil, listar e definir conceitos chave, temas para
investigação e finalmente trocar impressões com o orientador sobre o tópico em
análise. Depois de todos estes procedimentos, o investigador terá o tópico de
investigação, o qual deverá ser trabalhado em termos de objetivos e questões e
hipóteses de investigação.”
No meu ponto de vista, esta escolha nem sempre é muito
simples, Correia e Mesquita (2013) propõem um esquema de como encontrar um
tópico ou tema adequado, que é bastante útil para quem vai iniciar a criação de
uma proposta de investigação. Mesmo assim, considero que em muitos casos
subsiste um conjunto de considerações a ter em conta antes da escolha dos
tópicos:
Quais são os temas de interesse para o laboratório ou
centro de investigação em que está inserido o investigador? Quais as temáticas
que existe necessidade em se conhecer mais e/ou melhor? Quais são os interesses
de investigação do orientador? Que temáticas são de maior interesse para os
editores das revistas científicas?
Importa também, em determinadas situações compreender quais
os temas que são mais ou menos fáceis de conseguir financiamento. No caso
específico da educação, com espacial destaque para a educação a distância ou
com uso de recursos pedagógicos multimédia, importa também verificar que
inovações serão relevantes no futuro, já que acontece várias vezes de uma
investigação de doutoramente se embrenhar numa temática que 3 ou 4 anos depois
(a quando na finalização do processo investigativo), essa temática já não seja
equacionada como uma metodologia/ estratégia/ recurso a ter em conta no
processo educativo.
2. Definir questões e objetivos de investigação
Depois de se delimitar o tema é importante efetuar uma
primeira revisão da bibliografia fundamental relativo a esse assunto,
verificando o que já se sabe, que pesquisas foram já efetuadas, quais as
sugestões propostas para trabalhos futuros. Tendo em consideração esses dados,
importa apresentar uma questão ou hipótese de investigação. Geralmente as
hipóteses estão associadas os estudos de índole quantitativo e as questões aos
estudos de natureza mais qualitativa.
Mas este facto não parece ser unânime, já que levantou
algumas questões no fórum realizado no Seminário de e-Research em eLearning e
EaD: um dos colegas referiu que lhe suscita dúvidas o facto de se ter de
trabalhar numa investigação sempre com possíveis respostas, já que deveria ser
mais interessante que estas só venham a surgir com o desenvolvimento do
processo investigativo. Claro que tal afirmação levou a várias contestações,
mas no meu ponto de vista, esta dúvida é algo permanente na área da educação.
Claro que as questões de investigação devem existir, mas tendo em consideração
as variáveis múltiplas existentes nos contextos educativos, a investigação em
educação, parte muitas vezes de premissas que obrigam à utilização de
metodologias investigativas exploratórias o que limita a possibilidade de
apresentação de hipóteses de investigação iniciais.
Apesar destas dúvidas, podemos considerar, tendo por base Correia
e Mesquita (2013) a hipótese “indica a questão numa forma passível de ser
testada e prediz a natureza da resposta. (…) A formulação de hipóteses é usada
quando a teoria e o conhecimento existentes permitem a formulação de previsões
razoáveis sobre as relações entre variáveis. A hipótese é definida como uma
resposta previsível a uma questão de investigação. ”
Por seu lado, “(…) uma questão de investigação específica enuncia o que se
pretende descobrir” e
a hipótese “prediz
a priori a resposta a essa questão.”
3. Metodologia a utilizar
A questão de investigação, só por si, já limita a tipologia
de investigação que se irá utilizar. Tal como indicou um dos colegas que
participaram no fórum, os objetivos da investigação devem ser a
operacionalização da pergunta de investigação, existindo dois grandes tipos de
objetivos: os descritivos e os analíticos. Os analíticos traduzem uma hipótese
de investigação que no final do estudo vai ser rejeitada ou não, e por isso,
considera a existência de variáveis independentes e dependentes. Já os descritivos,
pretendem (tal como o nome indica) descrever um fenómeno num determinado
contexto/ população.
Assim, na proposta de investigação, devemos indicar a
população que se vai estudar, a metodologia geral de investigação, assim como,
os métodos de recolha de dados que iram ser utilizados. Esta escolha, só por
si, já delimita os resultados que se pretende obter no estudo, nomeadamente se
se pretende generalizar ou apenas contextualizar os resultados obtidos, assim
como, a que população se pode ou não realizar essa generalização.
Ainda referente à metodologia a utilizar, um dos colegas
aproveitou o fórum para expressar a sua opinião referindo que uma investigação
no âmbito de um estudos doutorais, não se deve cingir a uma revisão profunda da
literatura existente sobre a temática, mas deve-se embrenhar no terreno, ser um
estudo que recolhe dados no contexto. Esta opinião foi generalizada por vários
dos colegas que participaram no fórum, mas pessoalmente, refutei esta opinião.
Apesar de não se tratar propriamente apenas de uma revisão profunda da
literatura, considero que as investigações que se suportam numa
metodologia de tipo meta- analise, são essenciais para consolidar a
investigação já existente. Na área do EaD, o artigo “Meta-Analysis: The preferred method of
choice for the assessment of distance learning quality factors” apresenta
alguns argumentos que sustentam esta minha opinião.
Assim, de uma forma geral numa proposta de investigação, na vertente mais metodológica, deve ser apresentada a
população-alvo e os métodos de amostragem a utilizar, os instrumentos
e técnicas de medição, o desenho da recolha dos dados, os procedimentos de
recolha, tratamento e análise desses dados e o desenvolvimento de planos de
contingência.
No que se refere
especificamente a este último (plano de
contingência), considero ser
um ponto fulcral a ter em consideração no projeto de investigação e coloquei
mesmo a seguinte questão no fórum do Seminário de e-Research em eLearning e EaD: as
propostas de investigação não deviam precaver possíveis problemas e, assim,
criar um plano de contingência? Alguns colegas consideram que, apesar
de ser natural os avanços e recuos na investigação, os planos de contingência
são essenciais para que em determinadas situações, caso
se verifiquem falhas ou imprevistos, os planos e procedimentos
"alternativos" podem assegurar o seguimento da investigação. Outros
colegas consideram que as propostas de investigação não devem conter planos de
contingência, já que durante a persecução da investigação pode ocorrer um
número muito grande de imprevisto, o que torna inviável prever planos de
contingência para todos os possíveis imprevistos.
Pessoalmente, considero que não é viável prever todos os
imprevistos, mas penso que o investigador deve inicialmente fazer um
brainstorming sobre erros que semelhantes que tenha observado noutras
investigações em que participou ou que tenha verificado nas leituras que
realizou sobre a temática e, com base nesses dados, prever o que poderá
hipoteticamente correr mal e como, dessas situações, deverá reagir/ proceder.
Assim, depois de escolher a temática a investigar, as
questões ou hipóteses a colocar e a metodologia a seguir, importa começar a
redigir a proposta em si. Segundo Correia e Mesquita (2013) a proposta pode
seguir os seguintes tópicos:
1- Introdução : título; capa; tabela de conteúdos;
contextualização e enquadramento da investigação; problema de investigação (com
sua definição e contextualização); importância, significado e contributo do
estudo para o avanço do conhecimento científico; questões e sub- questões de
investigação (e questões, caso se coloquem); definições dos termos utilizados
no estudo; prossupostos do estudo; delimitações e limitações do estudo.
2- Revisão da Bibliografia: visão sucinta da literatura relevante sobre atemática, incluindo a
descrição dos constructos utilizados
3- Metodologia: estratégia geral de investigação, população-alvo; os
instrumentos e técnicas de medição; desenho da recolha dos dados; procedimentos
de recolha; tratamento e análise dos dados e planos de contingência.
4- Conclusão: apresentação de como será o documento
final (índice preliminar) e cronograma de investigação
A importância do cronograma na proposta de investigação foi
outro dos temas debatidos no fórum. O tempo dedicado para cada tarefa, a
importância de incluir margens de segurança são critérios a ter em consideração
no cronograma das atividades investigativas a realizar, No caso de uma tese de
doutoramento este tempo pode perlongar-se por dois, três ou quatro anos e, por
isso, é essencial planificar muito bem, mas tal como referiu no fórum um dos
colegas, nem sempre se deve deixar muito tempo para a tarefa, já que nós
latinos, temos uma tendência quase natural para protelar tudo para o fim dos
prazos que estabelecemos. Relativamente a este tema, ainda aproveitar para referir,
que no cronograma do projeto de investigação é importante reservar algum tempo
para a escrita final da tese, tal como indicava no fórum um colega “Após uma 'lufada de ar', a escrita é retomada sempre
de maneira revigorada.” .
Por último, gostaria de salientar outra das temáticas
importantes referidas no fórum, relativamente à revisão progressiva da
proposta. Tal como referi no fórum: “Durante
a construção da proposta de investigação, é fundamental realizar revisões
progressivas da proposta, tendo por base a apreciação de outros intervenientes
como colegas, possíveis orientadores ou outros investigadores (por exemplo,
workshops em determinados congressos).” A maioria dos colegas considera que mais do que saber
qual a opinião dos colegas doutorandos, importa verificar quais as sugestões
dos orientadores e outros especialistas na temática. Pessoalmente, considero
que até à entrega final da proposta, todas as opiniões são de salutar, não só
daqueles que estão embrenhados na temática em causa, mas como escrevi no fórum: “quando
se realiza uma proposta de investigação as críticas/opiniões dos outros podem
não ser tanto relativamente ao conteúdo da temática, mas mais sobre a
viabilidade da proposta metodológica, assim como, sobre a pertinência de
determinada investigação no contexto do conhecimento científico atual.”
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