Análise de Conteúdo

Segundo Bardin, a análise de conteúdo é “um conjunto de instrumentos metodológicos cada vez mais subtis em constante aperfeiçoamento, que se aplicam a «discursos» (conteúdos e continentes) extremamente diversificados”. Na fase de avaliação das entrevistas, foi-nos proposto a realização da análise de conteúdo das entrevistas realizadas. Para realizar tal procedimento, tendo por base a transição já realizada, segui o seguinte procedimento:


1º Efectuei uma leitura geral (flutuante) de todo o texto transcrito, de forma a compreender o global da informação recolhida e criar uma primeira impressão;

2º Assinalei em todo o texto as respostas que me permitiram agrupar em categorias (criei unidades de registo e de contexto);

3º Seguidamente, reorganizei as categorias em grandes grupos, criando assim, as categorias gerais e sub-categorias;

4ª Após uma revisão aprofundada do trabalho realizado, enviei a minha análise ao meu colega de grupo, para este realizar uma validação inter-investigador (nesta fase eu também realizei uma avaliação da análise feita pelo meu colega à entrevista por ele realizada);

5º Finalmente, depois de verificar as alterações por propostas, efectuei uma última análise para correcção nas categorias, sub-categorias, unidades de registo e unidades de contexto.

Apesar de toda a bibliografia consultada, este procedimento não foi nada simples de concretizar. Penso que isto se deveu ao nosso pensamento formatado dentro de uma visão investigativa muito racional e métrica, que me dificultou uma visão mais holística da análise discursiva. Tal como narrei num dos fóruns sobre esta temática no moodle, quando apliquei o procedimento de análise de conteúdo, verifiquei na prática uma evidente subjectividade. Isto porque, por um lado ou temos pré-conceitos estabelecidos já na fase de criação da própria entrevista, o que nos leva a categorizações à priori; ou o agrupar de categorias depende em grande medida dos conhecimentos e até preconceitos da pessoa que realiza tal avaliação.

Mesmo considerando que validação inter-investigador serve para diminuir esta subjectividade, parece-me existir sempre conhecimentos ou preconceitos a priori partilhados por determinados grupos profissionais, nomeadamente investigadores de determinada área. Como referi no fórum, considero que quando finalizamos a criação da entrevista, já criamos (inconscientemente e mentalmente) alguns grupos temáticos (que podem vira a ser categorias) que vão permanecer na análise de conteúdo, mesmo quando se considera que se inicia a investigação por um quadro de análise aberto. Por isso, tenho algumas dúvidas na aplicação da análise de conteúdo tipo “fishing expeditions”, pelo menos no que diz respeito à análise de entrevistas. Isto porque, a criação de uma entrevista, no meu ponto de vista, já por si é uma forma voluntária ou involuntário de se especificar uma hipótese.

Claro que as regras de enumeração (presença ou ausência, frequência, intensidade, direcção, ordem, co-ocorrência) no recorte do texto em análise, possibilitam uma maior validade na classificação e agregação das categorias, tendo por base critérios de categorização (semânticos, sintácticos, lexicais ou expressivos). Mesmo assim, parece-me mais fácil descrever estas estratégias de legitimar este procedimento, do que as aplicar na prática, talvez por falta de experiência neste procedimento.



A aplicação deste procedimento foi, no meu ponto de vista, muito útil para começarmos a reflectir sobre quais as estratégias metodológicas que iremos utilizar na nossa investigação final (e o porquê dessa escolha). Eu pessoalmente, fiquei com muitas dúvidas se pretendo ou não utilizar esta método de recolha de dados (dependendo de todo o plano de investigação), já que se por um lado a literatura rediviva que, tal procedimento, promove uma maior exploração de informação em situações contextualizadas (em comparação com a aplicação de questionários), por outro lado, a utilização prática deste procedimento levantou-me algumas dúvidas:

- A desejabilidade social pode ser um problema, já que na aplicação de entrevista, o sujeito tem menos noção do anonimato. Este factor, no meu ponto de vista, pode ainda ser influenciado pelo contexto geográfico de investigação. Por exemplo, no meu ponto de vista, um aluno entrevistado que resida num contexto geográfico insular, terá mais noção da falta de anonimato comparativamente com um residente num contexto mais urbano.

- A influência directa do entrevistador. Tal como já referi, os nossos pré-conceitos e expectativas têm sempre alguma influência nas respostas dos sujeitos. Sendo 80% da nossa comunicação efectuadas por meios não verbais, todos os olhares e gestos efectuados pelo entrevistador durante a entrevista, podem ser interpretados pelo entrevistado de várias formas. Por isso, é necessário que o entrevistado tenha uma longa experiência na aplicação deste método e, mesmo assim, deverá ter uma capacidade grande de auto-reflexão para compreender o que pode ter transmitido ao entrevistado que possa ter influenciado a sua resposta.

Como referem Johnson & Christensen (2004), muitas vezes o problema em investigação qualitativa é que os investigadores “descobrem” aquilo que eles querem descobrir, porque este tipo de investigação tendem a ser exploratórias, mais abertas e menos estruturadas.

Com isto não quero dizer que considere pouco útil esta metodologia, bem pelo contrário, existe um conjunto de vantagens na sua aplicação (e que já descrevi anteriormente) que fazem com que este método de recolha seja muito útil. Considero, é que a aplicação deste como única forma de recolha de informação numa investigação pode tornar os resultados um pouco pobres, mesmo quando nos focalizamos em contextos restritos. Depois de ler alguns dos capítulos de Johnson & Christensen (2004), começo a considerar (e aqui, sei que estou a contrariar alguns dos posts que coloquei anteriormente), que o uso de métodos mistos de investigação possa ser benéfico para o enriquecimento de um plano de investigação. No entanto continuo a ter muitas dúvidas sobre como conjugar métodos de recolha de dados típicos de paradigmas diferentes. Mas, pondero que é mesmo para isso que serve esta UC, para além de termos mais alguns conhecimentos sobre os métodos usados na investigação em educação, serve também para nos questionarmos, reflectirmos e desenvolvermos uma atitude proactiva de consulta de revisão bibliográfica sobre esta temática, de forma a iniciarmos a nossa dissertação com um plano procedimental mais fundamentado.

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