Fase 4 - Transcrição

Segundo Bourdieu (Boni & Quaresma, 2005) “Uma transcrição de entrevista não é só aquele ato mecânico de passar para o papel o discurso gravado do informante pois, de alguma forma o pesquisador tem que apresentar os silêncios, os gestos, os risos, a entonação de voz do informante durante a entrevista. Esses “sentimentos” que não passam pela fita do gravador são muito importantes na hora da análise, eles mostram muita coisa do informante. O pesquisador tem o dever de ser fiel, ter fidelidade quando transcrever tudo o que o pesquisado falou e sentiu durante a entrevista.”. Penso que este não foi o caso, porque como já tinha referido noutro post, apesar de ter alguma treino na aplicação de entrevistas semi-estruturadas para fins profissionais, nesses casos, não tenho que trascrever literalmente toda a narração, mas apenas tópicos de interesse, contrariamente a essa situação na entrevista como meio de investigação qualitativa a fase de transcrição é essencial.

Segundo Johnson & Christensen (2004), a transcrição é o processo de transformação dos dados de pesquisa qualitativa, tais como gravações em áudio das entrevistas, em texto escrito que possa ser analisado. Estes autores aconselham a utilização dos programas IBM`s ViaVoice e Dragon`s Natural Speaking para uma mais fácil transcrição. Pelo que consegui verificar, pelo menos o IBM`sVia Voice suporta o Reconhecimento Automático de Fala do português europeu. No meu caso optei pela forma tradicional, transcrever manualmente por partes, após escutar a peça gravada.

Segundo Kvale (1996), algo importante a ter em consideração na transcrição é verificar se a entrevista está realmente gravada. Esta observação parece quase ridícula, mas é algo que deve ser considerado em questão quando tiver de realizar uma investigação. No caso presente, trata-se de uma entrevista realizada a um conhecido, o que significa que caso não tivesse gravado correctamente a entrevista, teria facilidade em realizar uma nova entrevista a outro docente. Mas, numa investigação real, não poderia “correr novamente atrás” do entrevistado. E Kvale salienta, se a entrevista não é gravada, o entrevistado pode já não se recordar do que foi dito ou pode ter falsas recordações, o que colocaria em causa a fiabilidade das informações recolhidas. No meu caso particular, testei bem o microfone e o programa de gravação do PC (audacity) de forma a não ter um contratempo na altura da realização da entrevista.

Também, conforme o descrito por Bourdieu (Boni & Quaresma, 2005), o investigador deve aliviar o texto de frases confusas de redundâncias verbais ou tiques de linguagem (ó pá, pois, não é, …), tendo o cuidado de nunca trocar a palavra por outra, nem mesmo mudar a ordem das palavras. Na transcrição realizada, tentei sempre seguir esses princípios. Mais do que para este exercício, estes pressupostos parecem-me fundamentais para a realização de qualquer investigação futura que eu venha a fazer e recorra a esta metodologia de recolha de dados.

O investigador “deve ser rigoroso quanto ao seu ponto de vista, que não deixa de ser um ponto de vista de um outro ponto de vista, o do entrevistado.” (Boni & Quaresma, 2005)

2 comentários:

  1. Apreciei bastante a leitura deste blog assim como a ideia de colocar links para as referências bibliográficas utilizadas,a Delicious e os blogs dos outros colegas! Muito interessante e útil! Obrigada.

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