Aplicação da Entrevista - Fase 3 (Kvale,1996)

Esta é uma fase importante já que depende em grande medida da componente comunicativa e relacional do entrevistador. O entrevistador deve ser capaz de, tendo por base um guião de entrevista, guiar o entrevistado sempre que considerar que as questões não ficaram clarificadas ou sempre que necessitar de repor o contexto da entrevista, caso verifique que o entrevistado “foge” da temática em análise. As entrevistas semi-estruturadas têm a vantagem de permitir uma elasticidade quanto à duração, o que permite um maior aprofundamento de determinados assuntos. No caso específico, a entrevista realizada durou aproximadamente 20 minutos. A interacção entre entrevistador e entrevistado favorece respostas espontâneas, contrariamente ao que poderia acontecer no caso de aplicação de um questionário. Para Boni, e Quaresma (2005), “quanto menos estruturada a entrevista maior será o favorecimento de uma troca mais afetiva entre as duas partes” e “as respostas espontâneas dos entrevistados e a maior liberdade que estes têm podem fazer surgir questões inesperadas ao entrevistador que poderão ser de grande utilidade em sua pesquisa”.


Existe por isso, uma necessidade da criação de um contexto onde o entrevistado não se sinta constrangido. Para isso, o entrevistador deve durante a entrevista enviar sinais de compreensão e empatia, através de gestos, acenos de cabeça, olhares e outros sinais verbais de incentivo. De forma a não quebrar a fluidez da narrativa, o entrevistador deve intervir o mínimo possível. A realização deste tipo de procedimento requer algum treino, já que, muitas vezes, o entrevistado focaliza-se mais na leitura das questões e não tanto no feedback transmitido ao entrevistado. No meu caso, este não foi uma dificuldade, já que tenho bastante prática na realização de entrevistas semi-estruturadas quer no âmbito escolar e selecção de pessoal quer na sua utilização em contextos de intervenção terapêutica. Apesar desta suposta vantagem, na realização desta entrevista senti dificuldade em gerir a direcção desta, nomeadamente sempre que tive que incluir questões que pretendiam clarificar determinado assunto, nestes casos, tive de rapidamente tentar criar a melhor formulação, evitando questões orientadoras, de “cano”duplo ou duplas negativas.

A adequação da linguagem ao entrevistado é outro ponto a ter em consideração. Neste caso, esta questão não se colocou, já que quer o entrevistador e o entrevistado partilham uma linguagem profissional semelhante. Uma das dificuldades que senti durante a realização da entrevista, foi ter de evitar responder a questões que me foram colocadas directamente pela entrevistada como “não é assim?”, “pois não?” ou “o que é que achas?”.

Sendo assim, “Uma entrevista bem sucedida depende muito do domínio do entrevistador sobre as questões previstas no roteiro. O conhecimento ou familiaridade com o tema evitará confusões e atrapalhos por parte do entrevistador, além disso, perguntas claras favorecem respostas também claras e que respondem aos objetivos da investigação.” (Boni & Quaresma, 2005). Depois da experiência que tive na aplicação deste tipo de entrevistas, parece-me essencial e tendo em conta toda a bibliografia sobre esta temática, caso queira/tenha de utilizar esta estratégia a quando da realização da investigação da Dissertação de Mestrado, devo tentar precedentemente aplicar a entrevista a alguém representativo da população-alvo de forma a verificar quais os erros existentes no guião, quer as dificuldades que poderei ter a realizar este procedimento.

Apesar de na literatura descrever que a gravação áudio pode ser um factor que dificulta a espontaneidade da comunicação por parte do entrevistado, o facto de ter antecipadamente esclarecido que o conteúdo iria servir apenas para uma transcrição e análise, levou a que a entrevistada, minutos após o início da entrevista, tenha comunicado fluentemente sem demonstrar necessidade de adequar o discurso (pelo menos esta é a minha visão dos acontecimento).

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