Balanço Final

Este é o meu último post, neste blog dedicado à criação de um eportefólio relativo às aprendizagens realizadas na Unidade Curricular de Metodologias de Investigação em Educação. Seria normal, eu agora enumerar todos os conhecimentos e competências adquiridos durante este semestre e as vantagens destes para a sua utilização na realização prática de uma investigação. Mas sinceramente, tenho algumas dúvidas em apontar todas essas vantagens, porque considero estar tanto ou mais confuso do que no começo desta UC. Não que tenha sido mal leccionada a UC! Não que tenha adquirido poucos conhecimentos! O problema coloca-se na sua aplicação prática.

Quando iniciei esta UC, tinha conhecimentos gerais da utilização de metodologias de investigação em educação e psicologia, principalmente na aplicação de questionários (apesar de já não me recordar de como se utiliza o SPSS). Com esta UC passei a ter uma maior noção, principalmente dos paradigmas que estão por detrás, assim como de alguns métodos de recolha de dados em investigação qualitativa. A aplicação de entrevistas, assim como, o processo de análise de conteúdo deste método, foi também uma mais-valia para a minha aquisição de competências como pesquisador. Apesar disso, fiquei com algumas dúvidas de como se deve transpor a informação recolhida na análise de conteúdo para as conclusões finais. Parece-me também ser uma limitação, o facto de não termos tido a oportunidade de utilizar algum programa informático de análise de conteúdo, de modo a podermos de forma mais consistente compreender as vantagens e desvantagens metodológicas de uso destes procedimentos.

Pessoalmente, esta UC levou-me a reflexões profundas de como se deve ou não promover ciência. Sempre tive muitas dúvidas sobre a natureza neutra da ciência e considero que esta UC levou-me a desenvolver uma consciência ainda mais reticente relativamente a este tema. E tenho essas dúvidas, principalmente quando tento imaginar a planificação da minha investigação final. Não quero dizer com isto, que não tento planificar uma metodologia séria. Não tento dizer que os outros investigadores não tentam planificar de forma séria. Considero é que os limites temporais, de acesso a dados e de sua análise, podem condicionar tanto a investigação ao ponto de poderem limitar o âmbito de actuação, assim como, o próprio problema e as hipóteses colocadas.

Para ser prático, por exemplo, verifiquei durante esta UC, que as entrevistas são um óptimo método de recolha de dados, nomeadamente quando estamos a submergir em áreas ainda pouco estudadas. Mas, quando queremos analisar uma temática educativa, devemos ouvir os vários intervenientes no processo educativo, como professores, alunos e encarregados de educação. A aplicação, por exemplo de entrevistas a encarregados de educação, pode ser um obstáculo por dificuldade de acesso a estes (principalmente se a nossa amostra for aleatória, mesmo que muito reduzida). Isto, faz com que um investigador fique renitente em realizar este tipo de recolha de dados, o que pode condicionar toda a planificação metodológica e até questão levantada inicialmente. Muitos outros exemplos poderiareferir.

Assim, verifico que, principalmente no caso de dissertações de mestrado (em que o mestrando é, geralmente, pesquisador apenas em part-time) as temáticas investigativas podem depender, mais do acesso a determinada fonte, do que das necessidades reais de investigação. Como verifica Costa (2007) ao analisar as dissertações de mestrado realizadas em Portugal sobre tecnologias educativas:

“(…) é o contexto escolar e são as questões ou os problemas concretos do real que motivam os seus autores, na maioria professores (…). Não é, pois, o propósito de intervenção a mobilizar em primeira instância o interesse destes professores investigadores (…)”.

Mas será que isto depende apenas do interesse? Ou depende também da proximidade contextual das fontes para recolha de dados? Será que este facto pode determinar, em parte, a produção científica actual nesta área?

Não sendo eu professor, tenho mais dificuldade em aceder a um conjunto de agentes educativos. Será que este facto poderá condicionar as questões por mim colocadas na investigação? Espero bem que não.

No fim desta UC, ficam-me estas questões no ar. Considero que uma UC só pode ser útil se promover novas reflexões, dúvidas e levar à busca de novas leituras - o que aconteceu comigo neste estudo das Metodologias de Investigação em Educação. Espero agora vir a conciliar todo isto, de uma forma mais pragmática nesta nova fase da dissertação.

Design-based research

Como última temática, foi-nos proposto analisar um texto e reflectir sobre a investigação em inovação educativa. Pessoalmente, tive alguma dificuldade nesta fase, já que escolhi um texto que não me permitiu compreender de uma forma ampla, e principalmente paradigmática, o conceito de Investigação Aplicada sobre o Desenho (design-based resarch), o que me levou a ter de ler outros artigos sobre esta temática (mas aho que este é sempre o objectivo de qualquer UC). Trata-se de uma metodologia ou, segundo alguns autores, um paradigma de investigação que tenta pesquisar problemas educativos em contextos reais de actuação pedagógica. É uma abordagem que tenta salvaguardar o controlo experimental e simultaneamente a validade ecológica da investigação. Está centralizada na tentativa de resolver problemas educativos significativos e práticos. Tenta conciliar a robustez teórica, com o pragmatismo contextual, nomeadamente através de uma ligação colaborativa profícua entre investigadores e agentes educativos. De forma concisa, podemos caracterizar o Design-based Resarch como uma abordagem:

a) Pragmática, que tenta responder a questões práticas de contextos educativos reais;

b) Situada e contextualizada, já que tenta responder a problemas contextualizados e essa resposta não pode ser generalizada a todos os outros contextos educativos;

c) Interactiva, porque realiza-se através de uma avaliação e intervenção colaborativa entre investigadores e educadores que trabalham directamente nesse contexto;

d) Iterativa, porque está constantemente a ser reavaliada;

e) Flexível, pela característica mutável e permeável das múltiplas variáveis externas dos contextos educativos, faz com que os designs metodológicos permitam mudanças ao longo do processo de investigação, de forma a adaptar esta metodologia a esse mesmo contexto;

f) Integrativa, já que, mais do que uma metodologia esta abordagem é um novo paradigma investigativo, que pode ser implementado tendo por base um conjunto de abordagens e metodologias de investigação nomeadamente de recolha de dados;
Apesar destas vantagens, parece ainda existir várias dificuldades e problemas relacionados com esta abordagem, nomeadamente:

a) Envolver grandes custos financeiros e temporais, já que compreende vários actores (investigadores e intervenientes educativos) e pode avolumar-se em longos períodos de tempo;

b) Não existem normas que identifiquem claramente quando deve finalizar ou deve ser continuado determinado projecto, designadamente pela seu carácter interactivo, iterativo e flexível;

c) O tempo gasto em pesquisa na escola deve ser utilizado com algum cuidado, já que esse tempo é normalmente muito escasso;

d) Algumas pesquisas neste campo tendem a se iniciar já com uma “solução”, antes de se analisar os resultados;

e) Pode gerar excesso de dados, o que levanta problemas na sua análise – o esforço requerido para analisar estes dados, pode não ser compensatório proporcionalmente às contribuições pedagógicas dai resultantes;

f) Pelo seu carácter situado, a generalização é limitada.

Tal como referi num dos fóruns no Moodle, tenho ainda muitas dúvidas sobre as vantagens e desvantagens desta abordagem. Considero, sem dúvida, que o carácter prático desta abordagem é uma mais-valia para solucionar problemas educativos práticos, mas os custos envolvidos parecem-me ser demasiadamente elevados, tendo em consideração os resultados obtidos (até porque estes são apenas situados e não generalizáveis a todos os contextos). Mesmo assim, considero que foi importante, nesta UC, ter um maior conhecimento desta abordagem, para que possamos abrir novos horizontes metodológicos para serem utilizados na investigação final da nossa dissertação. Considero que necessito de continuar a ler mais exemplos de investigações que tinham por base esta abordagem, de forma a adquirir criar uma opinião mais sólida sobre as vantagens e desvantagens desta.












Criação de Bookmarks


Antes do início desta UC, utilizava para guardar as minhas fontes de pesquisa o bookmark da Google, não compartilhando os meu trabalho de pesquisa. Mas desde que nos foi proposta a construção colaborativa de fontes no marcador social del.icio.us, verifiquei o grande potencialidade deste(s) recurso(s). Os marcadores sociais permitem a criação de redes de recursos compartilhados por comunidades de interesse. Os utilizadores ao agregarem um novo link de um recurso, devem acrescentar uma pequena descrição da fonte, assim como, um conjunto de tags que facilitem a pesquisa. A facilidade de pesquisa, dentro destes marcadores sociais, depende da qualidade descritiva desses tags e descrições. Esta organização colaborativa de fontes possibilita uma maior poupança de tempo nas pesquisas, o que facilita o processo de investigação.

Tal como referi, nesta uc foi-nos proposto a criação colaborativa de fontes relacionadas com a temática dos métodos de investigação em educação. Como iniciei o semestre com algum atraso, tive bastante dificuldade inicial em compreender como trabalhava com este bookmark (até porque todos usamos o mesmo perfil). Mas penso, que depois de me ter adaptado ao funcionamento deste recurso, utilizei-o de forma a contribuir para o trabalho geral da turma. Considero que os sites e textos em PDF que postei, neste marcador social, se enquadram especificamente com a temática da investigação em educação. Os marcadores que postei tratam esses assuntos de forma pormenorizada, sendo as suas fontes credíveis. Tentei que os tags e as descrições feitas sobre as fontes propostas, não fossem uma visão individual sobre esse site ou texto, mas que reflectissem os interesses de pesquisa de todos os membros do grupo. Penso que os links que postei, contribuíram bastante para o desenvolvimento do meu trabalho individual e acredito, que tenham sido positivos para o trabalho quer da minha equipa (que infelizmente, fomos quase sempre dois), quer para todo o grupo turma. Reconheço, que nem em todos os temas contribui da mesma forma para este marcador social, já que em determinadas épocas deste semestre, por razões profissionais, não me pude dedicar tanto ao estudo nesta uc, como deveria ter feito.

Em geral, encaro que os marcadores sociais, nomeadamente o del.icio.us, podem ser essenciais para desenvolver estratégias de pesquisa que contribuam para uma melhor organização do levantamento bibliográfico na investigação em educação.

Nota - Ainda referente à utilização dos marcadores sócias, apesar de já estar a terminar a conferência online de informática educacional, vale a pena visualizar a apresentação realizada sobre Webinar - Mendeley (ferramenta de gestão e de referenciação bibliográfica).


Análise de Conteúdo

Segundo Bardin, a análise de conteúdo é “um conjunto de instrumentos metodológicos cada vez mais subtis em constante aperfeiçoamento, que se aplicam a «discursos» (conteúdos e continentes) extremamente diversificados”. Na fase de avaliação das entrevistas, foi-nos proposto a realização da análise de conteúdo das entrevistas realizadas. Para realizar tal procedimento, tendo por base a transição já realizada, segui o seguinte procedimento:


1º Efectuei uma leitura geral (flutuante) de todo o texto transcrito, de forma a compreender o global da informação recolhida e criar uma primeira impressão;

2º Assinalei em todo o texto as respostas que me permitiram agrupar em categorias (criei unidades de registo e de contexto);

3º Seguidamente, reorganizei as categorias em grandes grupos, criando assim, as categorias gerais e sub-categorias;

4ª Após uma revisão aprofundada do trabalho realizado, enviei a minha análise ao meu colega de grupo, para este realizar uma validação inter-investigador (nesta fase eu também realizei uma avaliação da análise feita pelo meu colega à entrevista por ele realizada);

5º Finalmente, depois de verificar as alterações por propostas, efectuei uma última análise para correcção nas categorias, sub-categorias, unidades de registo e unidades de contexto.

Apesar de toda a bibliografia consultada, este procedimento não foi nada simples de concretizar. Penso que isto se deveu ao nosso pensamento formatado dentro de uma visão investigativa muito racional e métrica, que me dificultou uma visão mais holística da análise discursiva. Tal como narrei num dos fóruns sobre esta temática no moodle, quando apliquei o procedimento de análise de conteúdo, verifiquei na prática uma evidente subjectividade. Isto porque, por um lado ou temos pré-conceitos estabelecidos já na fase de criação da própria entrevista, o que nos leva a categorizações à priori; ou o agrupar de categorias depende em grande medida dos conhecimentos e até preconceitos da pessoa que realiza tal avaliação.

Mesmo considerando que validação inter-investigador serve para diminuir esta subjectividade, parece-me existir sempre conhecimentos ou preconceitos a priori partilhados por determinados grupos profissionais, nomeadamente investigadores de determinada área. Como referi no fórum, considero que quando finalizamos a criação da entrevista, já criamos (inconscientemente e mentalmente) alguns grupos temáticos (que podem vira a ser categorias) que vão permanecer na análise de conteúdo, mesmo quando se considera que se inicia a investigação por um quadro de análise aberto. Por isso, tenho algumas dúvidas na aplicação da análise de conteúdo tipo “fishing expeditions”, pelo menos no que diz respeito à análise de entrevistas. Isto porque, a criação de uma entrevista, no meu ponto de vista, já por si é uma forma voluntária ou involuntário de se especificar uma hipótese.

Claro que as regras de enumeração (presença ou ausência, frequência, intensidade, direcção, ordem, co-ocorrência) no recorte do texto em análise, possibilitam uma maior validade na classificação e agregação das categorias, tendo por base critérios de categorização (semânticos, sintácticos, lexicais ou expressivos). Mesmo assim, parece-me mais fácil descrever estas estratégias de legitimar este procedimento, do que as aplicar na prática, talvez por falta de experiência neste procedimento.



A aplicação deste procedimento foi, no meu ponto de vista, muito útil para começarmos a reflectir sobre quais as estratégias metodológicas que iremos utilizar na nossa investigação final (e o porquê dessa escolha). Eu pessoalmente, fiquei com muitas dúvidas se pretendo ou não utilizar esta método de recolha de dados (dependendo de todo o plano de investigação), já que se por um lado a literatura rediviva que, tal procedimento, promove uma maior exploração de informação em situações contextualizadas (em comparação com a aplicação de questionários), por outro lado, a utilização prática deste procedimento levantou-me algumas dúvidas:

- A desejabilidade social pode ser um problema, já que na aplicação de entrevista, o sujeito tem menos noção do anonimato. Este factor, no meu ponto de vista, pode ainda ser influenciado pelo contexto geográfico de investigação. Por exemplo, no meu ponto de vista, um aluno entrevistado que resida num contexto geográfico insular, terá mais noção da falta de anonimato comparativamente com um residente num contexto mais urbano.

- A influência directa do entrevistador. Tal como já referi, os nossos pré-conceitos e expectativas têm sempre alguma influência nas respostas dos sujeitos. Sendo 80% da nossa comunicação efectuadas por meios não verbais, todos os olhares e gestos efectuados pelo entrevistador durante a entrevista, podem ser interpretados pelo entrevistado de várias formas. Por isso, é necessário que o entrevistado tenha uma longa experiência na aplicação deste método e, mesmo assim, deverá ter uma capacidade grande de auto-reflexão para compreender o que pode ter transmitido ao entrevistado que possa ter influenciado a sua resposta.

Como referem Johnson & Christensen (2004), muitas vezes o problema em investigação qualitativa é que os investigadores “descobrem” aquilo que eles querem descobrir, porque este tipo de investigação tendem a ser exploratórias, mais abertas e menos estruturadas.

Com isto não quero dizer que considere pouco útil esta metodologia, bem pelo contrário, existe um conjunto de vantagens na sua aplicação (e que já descrevi anteriormente) que fazem com que este método de recolha seja muito útil. Considero, é que a aplicação deste como única forma de recolha de informação numa investigação pode tornar os resultados um pouco pobres, mesmo quando nos focalizamos em contextos restritos. Depois de ler alguns dos capítulos de Johnson & Christensen (2004), começo a considerar (e aqui, sei que estou a contrariar alguns dos posts que coloquei anteriormente), que o uso de métodos mistos de investigação possa ser benéfico para o enriquecimento de um plano de investigação. No entanto continuo a ter muitas dúvidas sobre como conjugar métodos de recolha de dados típicos de paradigmas diferentes. Mas, pondero que é mesmo para isso que serve esta UC, para além de termos mais alguns conhecimentos sobre os métodos usados na investigação em educação, serve também para nos questionarmos, reflectirmos e desenvolvermos uma atitude proactiva de consulta de revisão bibliográfica sobre esta temática, de forma a iniciarmos a nossa dissertação com um plano procedimental mais fundamentado.

Fase 4 - Transcrição

Segundo Bourdieu (Boni & Quaresma, 2005) “Uma transcrição de entrevista não é só aquele ato mecânico de passar para o papel o discurso gravado do informante pois, de alguma forma o pesquisador tem que apresentar os silêncios, os gestos, os risos, a entonação de voz do informante durante a entrevista. Esses “sentimentos” que não passam pela fita do gravador são muito importantes na hora da análise, eles mostram muita coisa do informante. O pesquisador tem o dever de ser fiel, ter fidelidade quando transcrever tudo o que o pesquisado falou e sentiu durante a entrevista.”. Penso que este não foi o caso, porque como já tinha referido noutro post, apesar de ter alguma treino na aplicação de entrevistas semi-estruturadas para fins profissionais, nesses casos, não tenho que trascrever literalmente toda a narração, mas apenas tópicos de interesse, contrariamente a essa situação na entrevista como meio de investigação qualitativa a fase de transcrição é essencial.

Segundo Johnson & Christensen (2004), a transcrição é o processo de transformação dos dados de pesquisa qualitativa, tais como gravações em áudio das entrevistas, em texto escrito que possa ser analisado. Estes autores aconselham a utilização dos programas IBM`s ViaVoice e Dragon`s Natural Speaking para uma mais fácil transcrição. Pelo que consegui verificar, pelo menos o IBM`sVia Voice suporta o Reconhecimento Automático de Fala do português europeu. No meu caso optei pela forma tradicional, transcrever manualmente por partes, após escutar a peça gravada.

Segundo Kvale (1996), algo importante a ter em consideração na transcrição é verificar se a entrevista está realmente gravada. Esta observação parece quase ridícula, mas é algo que deve ser considerado em questão quando tiver de realizar uma investigação. No caso presente, trata-se de uma entrevista realizada a um conhecido, o que significa que caso não tivesse gravado correctamente a entrevista, teria facilidade em realizar uma nova entrevista a outro docente. Mas, numa investigação real, não poderia “correr novamente atrás” do entrevistado. E Kvale salienta, se a entrevista não é gravada, o entrevistado pode já não se recordar do que foi dito ou pode ter falsas recordações, o que colocaria em causa a fiabilidade das informações recolhidas. No meu caso particular, testei bem o microfone e o programa de gravação do PC (audacity) de forma a não ter um contratempo na altura da realização da entrevista.

Também, conforme o descrito por Bourdieu (Boni & Quaresma, 2005), o investigador deve aliviar o texto de frases confusas de redundâncias verbais ou tiques de linguagem (ó pá, pois, não é, …), tendo o cuidado de nunca trocar a palavra por outra, nem mesmo mudar a ordem das palavras. Na transcrição realizada, tentei sempre seguir esses princípios. Mais do que para este exercício, estes pressupostos parecem-me fundamentais para a realização de qualquer investigação futura que eu venha a fazer e recorra a esta metodologia de recolha de dados.

O investigador “deve ser rigoroso quanto ao seu ponto de vista, que não deixa de ser um ponto de vista de um outro ponto de vista, o do entrevistado.” (Boni & Quaresma, 2005)

Aplicação da Entrevista - Fase 3 (Kvale,1996)

Esta é uma fase importante já que depende em grande medida da componente comunicativa e relacional do entrevistador. O entrevistador deve ser capaz de, tendo por base um guião de entrevista, guiar o entrevistado sempre que considerar que as questões não ficaram clarificadas ou sempre que necessitar de repor o contexto da entrevista, caso verifique que o entrevistado “foge” da temática em análise. As entrevistas semi-estruturadas têm a vantagem de permitir uma elasticidade quanto à duração, o que permite um maior aprofundamento de determinados assuntos. No caso específico, a entrevista realizada durou aproximadamente 20 minutos. A interacção entre entrevistador e entrevistado favorece respostas espontâneas, contrariamente ao que poderia acontecer no caso de aplicação de um questionário. Para Boni, e Quaresma (2005), “quanto menos estruturada a entrevista maior será o favorecimento de uma troca mais afetiva entre as duas partes” e “as respostas espontâneas dos entrevistados e a maior liberdade que estes têm podem fazer surgir questões inesperadas ao entrevistador que poderão ser de grande utilidade em sua pesquisa”.


Existe por isso, uma necessidade da criação de um contexto onde o entrevistado não se sinta constrangido. Para isso, o entrevistador deve durante a entrevista enviar sinais de compreensão e empatia, através de gestos, acenos de cabeça, olhares e outros sinais verbais de incentivo. De forma a não quebrar a fluidez da narrativa, o entrevistador deve intervir o mínimo possível. A realização deste tipo de procedimento requer algum treino, já que, muitas vezes, o entrevistado focaliza-se mais na leitura das questões e não tanto no feedback transmitido ao entrevistado. No meu caso, este não foi uma dificuldade, já que tenho bastante prática na realização de entrevistas semi-estruturadas quer no âmbito escolar e selecção de pessoal quer na sua utilização em contextos de intervenção terapêutica. Apesar desta suposta vantagem, na realização desta entrevista senti dificuldade em gerir a direcção desta, nomeadamente sempre que tive que incluir questões que pretendiam clarificar determinado assunto, nestes casos, tive de rapidamente tentar criar a melhor formulação, evitando questões orientadoras, de “cano”duplo ou duplas negativas.

A adequação da linguagem ao entrevistado é outro ponto a ter em consideração. Neste caso, esta questão não se colocou, já que quer o entrevistador e o entrevistado partilham uma linguagem profissional semelhante. Uma das dificuldades que senti durante a realização da entrevista, foi ter de evitar responder a questões que me foram colocadas directamente pela entrevistada como “não é assim?”, “pois não?” ou “o que é que achas?”.

Sendo assim, “Uma entrevista bem sucedida depende muito do domínio do entrevistador sobre as questões previstas no roteiro. O conhecimento ou familiaridade com o tema evitará confusões e atrapalhos por parte do entrevistador, além disso, perguntas claras favorecem respostas também claras e que respondem aos objetivos da investigação.” (Boni & Quaresma, 2005). Depois da experiência que tive na aplicação deste tipo de entrevistas, parece-me essencial e tendo em conta toda a bibliografia sobre esta temática, caso queira/tenha de utilizar esta estratégia a quando da realização da investigação da Dissertação de Mestrado, devo tentar precedentemente aplicar a entrevista a alguém representativo da população-alvo de forma a verificar quais os erros existentes no guião, quer as dificuldades que poderei ter a realizar este procedimento.

Apesar de na literatura descrever que a gravação áudio pode ser um factor que dificulta a espontaneidade da comunicação por parte do entrevistado, o facto de ter antecipadamente esclarecido que o conteúdo iria servir apenas para uma transcrição e análise, levou a que a entrevistada, minutos após o início da entrevista, tenha comunicado fluentemente sem demonstrar necessidade de adequar o discurso (pelo menos esta é a minha visão dos acontecimento).

Criação de um Guião para a Entrevista

“Interviewing is a craft that is closer to art than to standardized social science methods” -Kvale (1996)

Para Kvale, uma das maiores virtudes da utilização da entrevista como método de recolha de dados qualitativa, é a sua abertura. Para este autor este método de recolha não segue uma técnica e regras excessivamente padronizadas, mesmo assim, ele propõe que a investigação que tenha por base a entrevista, deve seguir sete passos:
1- Tematizar. Antes de se iniciar a aplicação de uma entrevista é essencial formular o propósito dessa investigação e descrever o conceito do tema a ser investigado. Antes de se propor o método – “como?”- devemos nos focalizar em saber “por quê?” e “o quê?”.
2- Planificar. Projectar o esboço do estudo, tendo em consideração todas as etapas da investigação, antes de se iniciar a entrevista. Nesta planificação, deve-se ter em consideração qual o conhecimento que se pretende obter, assim como as implicações morais que este pode ter.
3- Entrevistar – Realizar uma entrevista tendo por base quer o guião de entrevista, quer uma abordagem reflexiva sobre o conhecimento procurado, assim como, uma preocupação com a relação interpessoal da situação da entrevista.
4- Transcrição. Preparar o material para análise, o que inclui a transcrição da narração da entrevista para suporte escrito.
5- Análise. Decidir, tendo por base um objectivo/ tema de investigação e a natureza do material recolhido na(s) entrevista(s), qual o método de análise mais apropriado.
6- Verificação. Averiguar a generalização, a confiabilidade e a validade das achados provenientes da entrevista.
7- Relatório. Comunicar os resultados do estudo e os métodos de uma forma que segue critérios científicos resultando num produto de fácil legibilidade, deve-se aqui ter em consideração os aspectos éticos da investigação.

Ainda sobre os Métodos e instrumentos de recolha de dados (2º Tema), foi-nos proposto a construção colaborativa de um guião de uma entrevista semi-estruturada que se insere “num estudo de caso sobre as representações de professores do ensino básico/secundário que sejam amigos pessoais dos estudantes do MCEM”, tendo por base três questões de investigação:
1) O que pensam esses professores sobre as redes sociais a exemplo do Facebook, Myspace, Hi5, Twitter, etc?
2) Como é que vêm a sua (hipotética/real) participação numa rede social?
3) Que expectativas têm sobre o seu uso no ensino?

Tendo por base os 7 pressupostos de Kvale, antes da criação do guião da entrevista, os investigadores deveriam ter focalizado em verificar o que queremos realmente estudar. Nesta proposta de trabalho, já tínhamos meio caminho andado, já que o professor já nos tinha facultado as questões investigativas de base. Mesmo assim, este deve ser um processo reflexivo, já que uma menor ponderação nesta fase, poderá comprometer toda a investigação subsequente.

A temática escolhida para a criação do guião da entrevista, foi um factor facilitador para a sua construção, já que se trata de uma temática que tem sido abordada em várias das Unidades Curriculares deste Mestrado, o que facilitou bastante a realização de uma rápida revisão bibliográfica da temática, de forma a facilitar uma guião coerente e que permita uma comunicação mais fluente com o entrevistado. Como se trata de uma entrevista semi-estruturada, o guião de entrevista deve servir de base flexível para um contexto de entrevista muito semelhante a uma conversa informal. Nestes casos, podemos combinar perguntas abertas e fechadas, podendo assim obter informação directa proveniente de respostas fechadas, assim como, informação mais aberta que possibilita alongar o tema para campos que antecipadamente poderiam não ter sido visualizados pelos pesquisadores.

A construção prática deste guião foi um pouco atribulada, já que inicialmente tentou-se organizar a criação do guião em pequenos grupos de trabalho, tendo-se seguidamente tentado construir um guião comum a todo o grupo-turma, através da funcionalidade wiki do Moodle. Mas, no meu ponto de vista, esta construção em grande grupo, não correu muito bem, a construção tornou-se confusa, uns com querendo retirar questões, outros colocando novas perguntas, enquanto outros tentavam agrupar as questões já existentes, levou a uma grande confusão, tendo-se por isso optado uma síntese proposta por um dos grupos de trabalho.

Métodos de Recolha de Dados

Os métodos de recolha de dados, são estratégias que possibilitam aos pesquisadores obter dados empíricos que lhe possibilitam responder às suas questões investigativas. Os dados daqui resultantes devem ser analisados, interpretados de forma a poderem ser transformados em resultados e conclusões.
Durante o trabalho sobre o tema 2 nesta UC, focalizamo-nos no estudo do estudo de alguns dos métodos utilizados quer na investigação positivista e quantitativa, quer na investigação interpretativa e qualitativa, tendo-nos focalizado com mais incidência na utilização do questionário no questionário enquanto técnica quantitativa e na utilização da entrevista como técnica usada na investigação qualitativa. Algumas das técnicas abordadas:
Testes
Um investigador pode usar numa investigação testes, anteriormente já criados e padronizados ou pode ter a necessidade de produzir novos testes que respondam às questões colocadas nessa investigação. Normalmente os testes servem para medir competências (cognitivas ou comportamentais) específicas.
Vantagens
Desvantagens
Permite comparar os resultados entre os diferentes participantes na investigação; apresenta fortes propriedades piscométricas; é possível aplicar a um número considerável de indivíduos num espaço de tempo limitado; se já tinha sido validado então temos dados de referência; existem validados e disponibilizados no mercado uma ampla gama de testes; a taxa de resposta é elevada; é fácil analisar os dados dai obtidos, devido à natureza quantitativa destes.  
Comprar o teste pode ser caro; pode ocorrer desejabilidade social na sua aplicação (dependendo do que se avalia); não possibilita a existência de questões abertas; alguns faltam dados; podem ser tendenciosos ou descriminar determinados grupos alvo (isto é notório em alguns testes de QI); pode não ser culturalmente apropriado para o contexto específico da investigação


Grupo Focal
Trata-se de uma estratégia de recolha de dados qualitativa, onde um grupo pequeno e homogéneo (de 6 a 12 pessoas) com orientação de um moderador debate um tema específico que é objecto de pesquisa. Esta estratégia deve decorrer num tempo limitado de uma a três horas, devendo toda a informação ser gravada em áudio e/ou em vídeo. Este método de recolha de dados é útil para obter informações sobre como as pessoas pensam sobre determinado assunto.  


Vídeo sobre um pequeno exercício de grupo focal, realizado por estudantes em “Researching
Digital Cultures” da universidade de Sidney
 on
Vimeo.


Vantagens
Desvantagens
É útil para explorar ideias e conceitos e recolher informações provenientes de reflexões mais aprofundadas, que não seriam de fácil acesso através de estratégias mais quantitativas; é possível obter informação mais detalhada; permite realizar sondagens; a recolha é feita em pouco tempo, podendo-se aproveitar muito conteúdo; pode-se analisar a reacção da interacção entre os participantes.
Pode por vezes ser caro; pode ser difícil encontrar um moderador com boas competências para facilitar, orientar e moderar o debate; pode existir uma tendência para que os participantes responderem e agirem segundo uma desejabilidade social; o debate pode ser dominado apenas por um ou dois participantes; os resultantes não podem ser generalizados; nos dados obtidos pode surgir muita informação irrelevante para a investigação em questão; a análise destes dados pode ser demorada; a validade pode ser baixa; não deve ser o único meio de recolha de dados numa investigação.   


Observação

O método de recolha de dados por observação, é um método em que o investigador observa (podendo por vezes participar) os participantes no seu ambiente natural ou contextos “artificiais” criados para o efeito, como os laboratórios. É uma estratégia muito valorizada na investigação em educação, já que nem sempre o que as pessoas dizem que fazem é aquilo que fazem realmente. Este método (ou conjunto de métodos) pode ser utilizado quer em investigação quantitativa, quer em investigação qualitativa, dependendo do processo utilizado.

A-     Observação Quantitativa
Neste caso, o processo de recolha de dados é completamente normalizado, á partida está tudo regularizado – quem é que observado, o que se observa, quando têm lugar as observações – existindo grelhas padronizadas de registo, assim como a utilização de procedimentos de amostragem por intervalos de tempo ou de ocorrência de determinado comportamento. Estes procedimentos são por exemplo utilizados na observação de comportamentos de docentes e alunos em sala de aula.

B-      Observação Qualitativa
Este tipo de abordagem, tem um carácter mais exploratório e aberto, em que o investigador efectua anotações de campo. Neste caso o investigador poderá assumir quatro papeis diferentes, dependendo dos objectivos que ele pretende atingir, podendo ser num contínuo, mais ou menos participante nesse contexto (participante completo, participante-como-observador, observador-como-participante ou completamente observador).


Vantagens
Desvantagens
Permite uma observação directa dos comportamentos das pessoas sem se ter de confiar na narração que estas fazem sobre esses comportamentos; se o observador for também participante existe uma experiência que também é vivenciada pelo próprio o que por vezes permite uma melhor compreensão desse fenómeno; nas observações mais padronizadas, podemos obter dados relativamente objectivos; é possível observar as não ocorrências (o que pode por vezes ser relevante em determinados estudos); o observador pode ver coisas que escapam à consciencialização dos participantes-observados; ajuda a compreender a importância dos factores contextuais;  óptimo para ser usado com participantes com poucas competências verbais (por exemplo, crianças); pode fornecer informação sobre coisas que as pessoas não estariam dispostas a falar noutro tipo de abordagem; fornece um moderado grau de realismo quando se trata de observação em meio natural; permite a recolha de vários dados descritivos de uma realidade.
A observação não permite, por vezes, compreender as razões que levaram a esse comportamento; quando se sabe que se está a ser observado podem ocorrer comportamentos atípicos; preconceito, percepção selectiva da observação ou identificação com o grupo observado pode ocorrer no observador; não permite a observação de um número elevado de participantes, nem de populações geograficamente dispersas; algumas definições e conteúdos não podem ser observados; nos dados obtidos pode surgir alguma informação irrelevante para a investigação em questão; a análise destes dados pode ser demorada; é um método mais caro do que a aplicação de testes e questionários


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Dados Secundários

Os dados secundários são dados originalmente utilizados para outras finalidades que não a investigação em causa. Estes podem ser documentos (pessoais, oficiais), dados físicos, dados de pesquisa em arquivo. Estes dados são importantes, principalmente quando se tratam de dados mais macrossociais, demográficos, sócio-económicos e históricos. A utilização destes dados serve, muitas vezes, para economizar tempo na investigação. Tem também a vantagem de ser forma discreta de  recolha de dados e de se poder observar dados que ocorreram ao longo de períodos alargados de tempo. Pode ser bastante útil para utilizar numa fase exploratória da investigação. Estes dados, nomeadamente os documentos e os dados de pesquisas em arquivo, podem ser datados e serem o único representante de uma determinada perspectiva e não estarem disponíveis ou ser necessária uma autorização ou pagamento para a sua utilização.
Questionário
Este é um dos métodos de recolha de dados que mais nos focalizados na sua análise durante os debates realizados neste segundo tema, nesta UC de Metodologias de Investigação em educação, já que também é um dos métodos mais usados nestas áreas de estudo. Um questionário é um instrumento de recolha de dados através de técnica de auto-preenchimento por parte dos participantes. Trata-se de um instrumento constituído por um número limitado de questões apresentadas de foram escrita, sendo composto por várias perguntas ou declarações. Uma das dos métodos mais utilizados nos questionários aplicados na área da educação, nomeadamente para medir construções abstractas, é através da apresentação é a apresentação de escalas de Linkert. Um item Likert é apenas uma afirmação à qual o sujeito pesquisado responde através de um critério que pode ser objectivo ou subjectivo. Normalmente, o que se deseja medir é o nível de concordância ou não concordância à afirmação. O formato típico de um item Likert de 5 níveis é:
  1. Não concordo totalmente
  2. Não concordo parcialmente
  3. Indiferente
  4. Concordo parcialmente
  5. Concordo totalmente
Às vezes são usados quatro itens, o que força o sujeito pesquisado a uma escolha positiva ou negativa, uma vez que a opção central "Indiferente" não existe. Apesar do mais comum ser a utilização de 4 ou 5 níveis, é possível a utilização de 6, 7, 8 ou até 9 níveis. Os questionários podem também ter, para além de questões fechadas, questões abertas ou mistas.

Johnson & Christensen propõem 15 princípios básicos para a criação de bons questionários:
Princípio 1: Verificar se os itens do questionário correspondem aos objectivos de pesquisa.
Princípio 2: Tentar compreender os participantes nessa pesquisa, lembrando que:
a) Os participantes é que vão preencher o questionário e não quem cria o questionário;
b) Tentar compreender as características culturais e demográficas da população-alvo, de forma a tentar que o questionário seja compreensível para eles.
Princípio 3 : Usar uma linguagem natural e familiar para a população-alvo
Princípio 4: Escrever itens claros, precisos e relativamente curtos.
a) Se e os participantes não entender os itens, os dados não serão válidos;
b) Itens curtos são mais facilmente compreendidos e menos stressantes do que itens longos.
Princípio 5 : Não usar perguntas orientadoras
a) Questões orientadoras levam o participante para onde o investigador quer;
b) Deve-se sempre usar uma formulação neutra
Princípio 6 : Evitar perguntas de “cano” duplo.
As questões de “cano duplo” combinam duas ou mais questões numa só (por exemplo: “Gostas de jogar videojogos quando estás em casa e nos intervalos na escola?”- se responder que muito, será muito na escola, muito em casa ou muito em casa e na escola? Se a pergunta incluir a palavra “e” é provável que seja uma questão de cano duplo.
Princípio 7 : Evitar duplas negativas.
(Por exemplo, "Eu discordo que os professores não devem ser obrigadas a supervisionar os seus alunos na biblioteca")
Princípio 8: Determinar se a questão deve ser aberta ou fechada
a) Perguntas abertas fornecer dados qualitativos provenientes das palavras dos próprios inquiridos,
b)Perguntas fechadas fornecem dados quantitativos com base nas categorias pré-determinadas pelo investigador.
c) As perguntas abertas são mais comuns em pesquisas exploratórias e perguntas fechadas são usuais em investigação confirmatória
Princípio 9 : Usar categorias mutuamente exclusivas e exaustivas nas respostas às perguntas fechadas.
a) Categorias mutuamente exclusivas não se sobrepõem (por exemplo, idades entre 00-10, 10-20, 20-30, não são mutuamente exclusivos, por isso devem ser reescritas da seguinte forma: menos de 10, 10-19, 20-29, 30-39, ... ).
b) As categorias exaustivas, incluem todas as respostas possíveis (por exemplo, se questionarmos sobre a idade à uma populção-alvo adulta que habita num determinado bairro, não podemos ter como categorias-18-19, 20-29, 30-39, 40-49, 50 - 59, 60-69 – porque, para ser exaustiva deveria considerar, pelo menos, mais uma categoria – mais de 70 anos)
Princípio 10 : Considerar os diferentes tipos de categorias de resposta aos itens, nas perguntas fechadas:
As escalas de avaliação mais comuns são :
a) O escalas numéricas (podendo ser escalar impares ou pares. Alguns pesquisadores preferem escalas com 5 pontos; outros pesquisadores preferem escalas de avaliação de 4 pontos, onde há uma menor tendência pela escolha dos ponto central.)
b) Ranking – neste caso, o inquirido deve colocar a sua resposta em ordem de classificação (exemplo: o mais importante, segundo mais importante, e o terceiro mais importante).
c) Diferenciação semântica – o inquirido deve escolher entre pólos opostos (exemplo: género masculino/feminino; sim/não, …)
d) Lista de verificação – neste caso, o inquirido deve verificar uma lista e assinalar todas aqueles casos em que se aplica a ele.
Princípio 11 : Usar vários itens para medir construções abstractas.
Princípio 12: Considerar a utilização de vários métodos para medir as construções abstractas.
Se se usar dois ou mais métodos de medição o investigador será capaz de verificar se as respostas são dependentes ou independentes do método
Princípio 13: Deve-se ter cuidado no caso de se inverter a redacção de alguns dos itens para impedir respostas automáticas.
Por vezes, determinadas populações-alvo tendem a responder sempre da ma mesma ponto da escala, independentemente da questão e, inverter as questões pode evitar esta tendência. Mas, estudos recentes tem verificado que a reversão da escala ao longo de várias questões do questionário, tende a diminuir a confiabilidade e validade da escala. Por isso, aconselha-se um uso moderado deste processo.
Princípio 14: Criar um questionário fácil de usar por parte do inquirido.
O inquirido, não deve ficar confuso, nem perdido ao longo da resposta ao questionário.
Princípio 15: Usar sempre um teste-piloto preliminar à aplicação final do questionário.
O investigador deve sempre, antecipadamente, testar o questionário junto de algumas pessoas com características semelhantes à população-alvo e, seguidamente, reformula-lo até que funcione correctamente.

Vantagens
Desvantagens
É um método barato; bom para medir atitudes e outras informações sobre conteúdos cognitivos e formas de pensar dos participantes nesse estudo; é possível aplicar a amostras probabilísticas, o anonimato percebido pelo participante é elevado; um questionário bem construído e validade pode levar a uma validade de medição moderadamente elevada; os itens fechados podem fornecer informações exactas, o que facilita a análise posterior desses dados; os itens abertos permitem informações mais detalhadas segundo as próprias palavras do participante (mas mais difíceis de analisar); instrumento útil quer para uma exploração inicial, quer para uma análise confirmatória.

Normalmente deve ser curto (o que leva a que não seja possível retirar muita informação); pode ocorrer desejabilidade social nas respostas; pode ocorrer não resposta a determinados itens ou respostas padronizadas; se se aplicar através de meios electrónicos, o nível de resposta pode ser baixo; itens abertos podem reflectir diferenças nas habilidades de escrita, obscurecendo questões de interesse; necessidade de validação; no caso de itens abertos a análise dos dados pode ser demorada.  



A Entrevista

A entrevista é o método de recolha de dados que iremo-nos focalizar e experimentar no próximo tema que abordarmos nesta U.C. A entrevista pode ser um método quantitativo ou qualitativo. Tendo em consideração o tipo de procedimento, o entrevistado tem de conseguir criar uma atmosfera de confiança com o entrevistado, caso contrário, os resultados obtidos vão ter pouca credibilidade. Por isso, é necessária alguma experiência, assim como, capacidade de empatia para se utilizar este tipo de abordagem.
A-     Entrevistas Quantitativas
São entrevistas padronizadas, que usam questões fechadas em que o entrevistado tem um protocolo de entrevista que é aplicado a todos os participantes. Neste caso o protocolo de entrevista é muito semelhante a um questionário, sendo que a principal diferença é que neste caso as questões são lidas pelo entrevistador (muito típico nas sondagens de opinião presenciais ou por telefone).
B-      Entrevista Qualitativa
São entrevistas baseadas em perguntas abertas, podendo estas dividirem-se em 3 tipos: conversação informal (mais ou menos estruturada), guia de entrevista/ semi-estruturada (inclui um protocolo, que não tem de ser aplicado de forma ordenada), aberta padronizada (segue um roteiro ordenado de questões abertas, em que a formulação das questões não pode ser alterada).
  
Vantagens
Desvantagens
Pode fornecer informações detalhadas; permite sondagens; é um bom método para medir atitudes e conteúdos; pode fornecer informação significativa sobre a forma de pensar dos participantes; no caso das questões fechadas possibilitam a fornecer informações exactas; no caso do uso por telefone ou por e-mail o retorno é muito rápido; se o protocolo for bem construído e testado a validade das medições são relativamente altas; pode ser usado em amostras probabilísticas, a taxa de resposta é relativamente alta; é útil quer para exploração, quer para confirmação.
Método caro e moroso de aplicar, os efeitos reactivos podem ser grandes, pois o entrevistado tem menos noção de anonimato o que pode promover respostas desejáveis socialmente; tem que se ter em conta os efeitos da presença do entrevistador, nomeadamente pouco experiência, preconceitos, …; em questões abertas os entrevistados podem não se lembrar de informações importante; a análise dos dados ser demorada em itens abertos; necessidade de validação   


O estudo e a construção colaborativa de conhecimento que fizemos durante o tempo em que nos focalizamos neste tema dos métodos de recolha de dados, foi essencial para um melhor conhecimento das estratégias utilizadas na investigação na área da educação. A compreensão de cada uma destes métodos de recolha de dados, parece-me essencial para a execução futura de um bom plano investigativo, nomeadamente no próximo semestre quando tiver de colocar em prática estes conhecimentos na produção da investigação inerente à dissertação de mestrado.

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